A Galeria Pontes, em parceria com o Museu de Arte Sacra de São Paulo, apresentou a exposição Arte Sacra Popular. Essa foi uma das primeiras ações conjuntas da instituição com o segmento de arte popular.

A mostra, com curadoria de Edna Matosinho de Pontes, contou com 40 peças inspiradas na religiosidade. Foram mostradas peças em técnicas variadas como escultura em madeira, escultura em cerâmica, pintura e bordado.

Foram apresentadas obras de vários artistas do acervo da Galeria Pontes: Adão, Antônio de Dedé, Antônio Poteiro, Artur Pereira, Bento, Costinha, Fé Córdula, Higino, João das Alagoas, José Antônio da Silva, José Bezerra, Maria do Socorro, Mestre Dezinho, Naninho, Odon Nogueira e Tota.

A exposição foi enriquecida com peças do Museu de Arte Sacra: uma magnifica Via Sacra pintada por José Antônio da Silva e com pequenas esculturas do século XIX chamadas Paulistinhas pois eram feitas no Estado de São Paulo para o altar domestico.

 

O Contraponto do Despojamento

Esta é a primeira vez que o Museu de Arte Sacra abre as suas portas para uma exposição de arte popular. Isto é muito significativo pelo reconhecimento da sua importância. Ela não é, como alguns pensam, uma arte menor. Apenas se exprime através de diferentes vias, tem um caminho próprio.

A arte popular é a viva expressão da criatividade do nosso povo. Através da sua fantasia o artista reinventa a realidade, estabelecendo intima relação entre o real e o simbólico. Ao contrário da arte erudita a arte popular é uma produção espontânea, na qual não sobra espaço para a educação formal ou acadêmica. Quando algum tipo de transmissão de conhecimento existe, ocorre no máximo informalmente com outro artista/ artesão que funciona como iniciador.

Na arte popular há muito mais espaço para a inventividade e para o saber fazer pessoal do que na arte erudita. A imaginação é muito mais livre tanto na forma final do trabalho como nos meios que ele inventa para resolver os problemas de como fazê-lo. Como afirma J. A. Nemer [1] “há um alto grau de desafio aos cânones tradicionais da atividade plástica” já que esses cânones são conhecidos “senão através de observação superficial”. Assim, a carência de informação aliada a uma curiosidade fértil abre caminho para a criação.

No caso da arte popular de cunho sacro ela expressa, além disso, a devoção religiosa de quem produz ou de quem encomenda o objeto.

Dois significativos exemplos disso são as imagens denominadas “Paulistinhas” e os “ex-votos”. Paulistinhas são imagens simples, de barro ou gesso, desenvolvidas em São Paulo no século XIX, que as pessoas do povo costumavam ter em suas casas para devoção. Os ex-votos são representações de partes do corpo humano – pés, mãos, cabeça, etc – usados como forma de veicular um pedido ou um agradecimento de um milagre.

Outras peças que integram esta exposição tendem a exprimir de diferentes modos estas características da arte popular em geral.

A imagem com a beleza rústica da Virgem com o coração trespassado de setas de Antônio de Dedé nos remete ao ambiente tosco que ele vive e aos poucos recursos que dispõe para criar uma figura tão encantadora como essa.

Mestre Dezinho, criador do São Pedro e do São Francisco, tem o talhe na madeira elegante e inconfundível e influenciou toda uma geração de santeiros no Piauí.

Em Bento, outro escultor em madeira, vemos uma leitura bastante diferente para o seu São Francisco, assim como para a Virgem, mas igualmente bela.

A procissão de Maria do Socorro ilustra com a delicadeza da costura e do bordado uma das mais profundas tradições do nosso povo.

Os presépios têm um inconfundível toque de brasilidade seja ele feito de barro (João das Alagoas), de madeira (Artur Pereira, Miramar e Adão) ou de pintura (Fé Córdula).

Antônio Poteiro foi um mestre na arte da modelagem do barro e na pintura. Aqui revela através da Virgem moldada no seu estilo característico e na sua forte e vibrante Última Ceia a sua devoção.

O grande e renomado artista José Antônio da Silva, autor desta magnífica Via Sacra, dedicou muitas de suas pinturas à Arte Sacra.

O escultor Higino, nos seus anjos e na virgem policromados, faz uma interessante releitura do barroco mineiro.

Tota com suas figuras de cerâmica ao mesmo tempo fortes e delicadas criou toda uma série de santos que remetem ao expressionismo.

Willi de Carvalho, o mestre das figuras em miniatura, expressa o espírito de religiosidade e poesia ao mesmo tempo.

José Bezerra vive em contato com a natureza, isolado no Vale do Catimbó – PE, de onde retira a madeira para as suas esculturas.

Odon Nogueira segue a tradição de Poteiro ao escolher trabalhar com cerâmica criando, porem, um estilo próprio.

Costinha segue a tradição dos escultores em madeira iniciada com Mestre Dezinho mantendo a mesma elegância no entalhe.

Finalmente, Naninho esculpe na madeira uma das mais lindas representações religiosas, o Espírito Santo.

Esta mostra no Museu de Arte Sacra é composta autenticas manifestações da criatividade e da religiosidade do povo brasileiro.

Notas:
1. A mão devota – Santeiros Populares de Minas Gerais nos séc. XVIII – Ed. Bem Te Vi.

Edna Matosinho de Pontes
Galeria Pontes – Curadora da exposição

Autor – Odon Nogueira
Título – ”Madona”
Ano – S/d
Técnica – Cerâmica
Dimensão – 53 x 108 x 50 cm

Da Arte a melhor expressão do Ser “Mãe”

A Arte Sacra Popular contemporânea é produto da interação daquele que pede para modelar uma imagem, como daquele que a modelou. Nesse sentido, há uma expressão tanto dos sentimentos daquele que encomenda, como daquele que realiza o trabalho, dando uma grande abertura para a interpretação dos vários signos que estão contidos na obra.

Cada obra da Arte Sacra Popular contém uma riqueza de linguagens que busca comunicar algo de muito profundo e singular, próprio do contexto na qual a obra nasceu. Para entender este conjunto de linguagens usamos a Semiótica, que é a ciência que investiga o que passa por todas as linguagens. Examinando o fenômeno da produção, do significado e do sentido destas.

Diante da “Madona” de Odon Nogueira sentimos a profundidade espiritual do ser “mãe”. O rosto da Virgem Maria transluz a grande excelência da ternura materna, através do seu olhar, dos seus lábios e do seu semblante sereno. Esta ternura afaga o filho e o contagia, tornando-o semelhante à mãe, muito bem expressado pelo artista ao modelar o Menino Jesus.

Há um destaque a se salientar: a proporção das mãos. Mãos de mãe que são grandes, pois são elas que tudo fazem para o filho, a fim de que ele seja sereno e feliz. Bem por isso, o artista, quebrando as regras do clássico, coloca um relógio no braço direito da Virgem, indicando que a mãe é aquela que dedica todas as horas do seu dia em atenção ao filho que tem.

A beleza que o artista comunica através da imagem da Madona, é aquela que é própria da mulher que abraça inteiramente a maternidade, e se doa em ternura ao seu filho.

Pe. José Arnaldo Juliano dos Santos

Abertura: 7 de junho de 2011 – terça-feira, às 20 horas.

Período: De 8 de junho a 14 de agosto de 2011 – De terça a domingo, das 10 às 18 horas (bilheteria até as 17:30 horas).

Local: Museu de Arte Sacra de São Paulo – Av. Tiradentes, 676 – Luz – São Paulo – Estação Tiradentes do Metrô – Telefone: (11) 5627-5393

Estacionamento gratuito no Museu, na Rua Jorge Miranda, nº. 43.
Site do Museu de Arte Sacra: clique aqui

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